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Notas de viagem (1996)

  • Writer: Tomás Rosa Bueno
    Tomás Rosa Bueno
  • May 17, 2019
  • 3 min read

Lonquimay, encosta oriental dos Andes

1

A Revolução de 1848 e o Segundo Império marcam o começo da construção do espetáculo moderno. A derrota da Comuna de Paris é a sua consolidação final. A partir dela, todos os elementos do espetáculo estão presentes. Para o movimento proletário, o objetivo central passa das questões do poder e das formas de o exercer para as da economia e das formas de a "melhorar".

2

A revolução proletária é política, não econômica. É o fim da economia, o começo da história, a política onipresente, a tagarelagem universal.

3

A supressão da Comuna - a derrota da política proletária - e a finalização da divisão do trabalho representada pelo conceito de criação individual na arte e em outros setores e pela figura do artista como criador autônomo (com a consequente elevação do trabalho intelectual a uma condição "superior") são condições sine qua non para o surgimento e a consolidação do leninismo em todas as suas variantes, da passagem da política das mãos dos proletários para as da "vanguarda".



Las Trancas, à sombra do vulcão

4

A democracia é obviamente incompatível com dinheiro absoluto. O resultado imediato de qualquer forma de poder proletário direto é a abolição do capital. Essa abolição decorre e é consequência inevitável da democracia, não o contrário.

5

O momento da vitória universal da mercadoria é também o do estabelecimento da falsidade como lente universal da realidade. Esse é o momento em que a burguesia, que se dissolve no espetáculo como classe universal, se dissolve realmente como classe dominante e reaparece no espetáculo como imagem dessa classe.

6

A burguesia é o agente, não o sujeito, da consolidação do poder da mercadoria. A extensão progressiva desse poder, de localizado e relativo a generalizado e absoluto, ocorre em simultâneo com o estabelecimento do espetáculo como forma exclusiva do seu exercício, suprimindo o papel do burguês individual - ou coletivo - como condutor do processo e fixando a burguesia no seu papel de imagem da classe dominante.

7

O espetáculo absoluto é o fim da política, tanto burguesa como proletária. A política é a "ragione tra due persone", e não pode existir onde não há relação, nem muito menos pessoas.

8

O papel do surgimento da arte de "vanguarda" na formação do espetáculo explica ao mesmo tempo as limitações dos princípios da prática situacionista como prática artística, a incapacidade de Debord de ver o espetáculo antes da Primeira Guerra e o prestígio como "novidade" cultural desse mesmo começo limitado da IS nos setores inteleculais de manutenção do espetáculo.

9

O Segundo Império mostra que o espetáculo surge plenamente desenvolvido desde os seus primórdios, já na sua forma mais moderna. Quando esta última forma inicia a sua expansão imperialista, a forma menos desenvolvida é a imagem espetacular das terras virgens a conquistar, mas também a imagem em negativo do seu triunfo já total em todo o mundo. Desde o momento da sua vitória, a visão de mundo proporcionada pelo espetáculo é imediatamente universal e absoluta: todo o mundo é um momento do espetáculo e este surge em cada uma das suas partes como única visão universal possível.

10

O espetáculo não é conspiração, o espetáculo não é produto. O espetáculo é a qualidade essencial da mercadoria abundante, sua condição necessária, seu pacificador de nativos. É o catalisador do processo de eliminação do valor de uso que permite à mercadoria ser a única coisa que pode ser para ser abundante e universal, para ser "fundamentalmente espectaculista": falsa satisfação de necessidades falsas, falsa diferença, falsa abundância.

11

A eliminação do valor de uso não é um processo lento e gradual, mas repentino e imediatamente total. O espetáculo é a qualidade da mercadoria que torna possível tal precipitação. O capitalismo é a organização que a mercadoria se dá para ser visivelmente o que já era essencialmente, para se livrar do peso inútil do valor de uso.

 
 
 

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